Texto por André Schelgshorn
A queda de consumo ao longo do período pandêmico foi certamente preocupante e teve uma influência negativa em todas as economias ao redor do globo. Ao mesmo tempo, o período de lockdown trouxe uma oportunidade única para o público: o isolamento significou a necessidade da adaptação das rotinas e costumes, incluindo os hobbies. Com mais tempo livre, foi possível que o público pudesse explorar novas atividades, retomar outras perdidas com o tempo ou mesmo se aprofundar em paixões já existentes.
Esse impulsionamento no consumo de itens e serviços voltados ao entretenimento foi benéfico para a retomada econômica e crescimento de mercados como o editorial. Os livros foram, como sempre, bons companheiros durante o silêncio das novas vidas adotadas, e os resultados não poderiam ser melhores: um aumento de 30% em volume e faturamento foi registrado ao longo de 2021 em relação ao ano anterior, e 2022 parece promissor, mas com algumas ressalvas (ao menos no mercado brasileiro).
A crise econômica foi, como previsto, mais dura contra os países emergentes. A retomada mais lenta significa índices inflacionários crescentes e, juntamente a outros fatores político-econômicos particulares ao Brasil (como o impacto da Copa no meio do ano e eleições no final do mesmo), traz um desafio que vai testar as editoras nacionais: o aumento no preço de papéis.
Com o custo elevado sobre a principal matéria-prima empregada na produção e impressão de livros físicos, editoras, autores e demais profissionais da área terão um ano bem atípico. A demanda existe e segue em alta, mas até onde os incentivos e medidas adotadas para segurar os aumentos irão deter a passagem destes maiores custos ao público final, ainda está para ser visto.
Apesar dos desafios, o mercado editorial conta com um novo aliado poderoso para ajudá-lo a enfrentar quaisquer obstáculos que possam vir a surgir – a tecnologia. Mais precisamente, as redes sociais e suas comunidades de ávidos leitores e leitoras que compartilham suas experiências com diversas obras lidas em plataformas online com demais usuários, fomentando um importante crescimento no consumo de material literário.
Conheça o “booktok”, uma comunidade bastante ativa no aplicativo de vídeos TikTok cujo objetivo é a divulgação de informações, dicas e experiências positivas com livros aos demais usuários da plataforma. O app ganhou bastante popularidade ao longo de 2020 por sua funcionalidade simples, objetiva e premissa semelhante à do Twitter, cujo foco é de posts com poucos caracteres: aqui, os vídeos teriam no máximo 1 minuto de duração, significando um consumo rápido e com menor potencial de rejeição, principalmente pelos públicos mais jovens.
Foi no coração do aplicativo que a comunidade booktoker ganhou forma e proporções significativas a ponto de gerar um aumento recorde na venda de livros nos EUA em 2021 (um novo recorde desde 2014, ano considerado o melhor para a área até então), e incríveis 125 milhões de livros vendidos a mais em 2020 quando em comparação ao ano de 2019.
Quer testar na prática? Basta baixar o app no seu smartphone e digitar a hashtag #Booktok – são mais de 46,5 bilhões de visualizações. E este impacto vem sendo sentido nas prateleiras físicas também, onde livrarias já sinalizam seções dedicadas aos livros em tendência no TikTok.
Agora, resta ver se o impulso no consumo literário gerado pelo período pandêmico, aliado às novas comunidades online dando mais vida e visibilidade ao hábito de leitura nos dias de hoje, será o suficiente para garantir aumentos por mais um ano, ou ao menos manter resultados semelhantes aos do último ano.